quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Desigualdade social: Origem e como afeta os indivíduos nos dias de hoje.

Como a desigualdade surgiu e atinge a população na atualidade?

No final do século XX, uma das maiores preocupações da humanidade foi a acentuada desigualdade existente em várias regiões do planeta. A desigualdade social parece estar aumentando com o aceleramento da globalização e da revolução da ciência e da tecnologia. Os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgados periodicamente pela Organização da Nações Unidas (ONU) têm demonstrado que os países mais ricos estão se distanciando dos mais pobres, aumentando a distância social que separa o Norte desenvolvido do Sul subdesenvolvido.

A reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Seattle, EUA, em dezembro de 1999, denominada Rodada do Milênio, fracassou, devido, principalmente, às manifestações de protesto contra a desigualdade social promovida pela globalização, o que acabou refletindo nos debates da organização. Em seguida, as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (Banco Mundial – Bird) tiveram o mesmo problema, forçando a divulgação de um documento das organizações financeiras posicionando-se em relação à desigualdade social mundial.
Não há mais lugar do planeta que consiga manter-se distante do problema social; as imagens da fome em diversos lugares do mundo refletem no dia-a-dia das pessoas comuns dos países desenvolvidos, forçando-as a pressionarem seus governos, suas instituições, para tomarem medidas a fim de diminuir o sofrimento dos mais pobres. Esse quadro é que torna possível a atual onda de manifestações mundiais, que encontram a tecnologia como aliada na mobilização.

Embora a humanidade tenha obtido avanços tecnológicos na medicina, além de uma grande produtividade agrícola e na produção de alimentos como um todo, o sistema econômico mundial, essencialmente capitalista, tem sido incapaz de superar a profunda desigualdade social que persiste na maior parte do mundo. Só a desigualdade na distribuição do poder político pode explicar que se produz o suficiente para reduzir a pobreza e, no entanto, milhões de indivíduos passam fome em diversos países.
A concentração de riqueza tem aumentado no mundo atual, gerando novos tipos de desigualdade, como, por exemplo, a de acesso à informática, o que implica aumento da desigualdade de acesso à informação – o conhecimento produzido passa a ser incorporado por uma minoria, que passa a deter cada vez maior controle dos processos de produção da riqueza global.

Um dos aspectos mais cruéis dessa desigualdade é a concentração de pobres nas principais zonas urbanas mundiais, nas quais se estima que 31,6% vivem em favelas, sendo que, se tomarmos somente os países mais pobres, 43% dos que moram em cidades são favelados. A ONU considera favelas os conjuntos de habitações precariamente construídas em regiões pobres das cidades e que se caracterizam por não ter saneamento básico e abrigar um excesso de moradores que não dispõem de títulos de posse ou propriedade regularizados.
Levando-se em conta que as cidades já abrigam metade da população mundial, ou 3 bilhões de pessoas, o quadro revelado pelas sub-habitações demonstra a gravidade da situação de desigualdade existente no mundo. Segundo a diretora executiva do programa O Desafio das Favelas, o Programa de Alojamento Humano da ONU, o problema é que “A falha dos governos em dotar com serviços as favelas abre uma lacuna na qual se instalam os criminosos. Há um vácuo perigoso aí. Pobre não é terrorista, mas a privação social extrema pode levar as pessoas ao comportamento anti-social”.

Essa situação de extrema desigualdade mundial foi construída ao longo dos últimos 500 anos e tem a mesma idade do processo de criação de uma economia mundial, que foi surgindo sobre a exploração extrema do homem pelo homem no decorrer desse período. A colonização teve suas bases assentadas sobre a escravidão, a servidão e a exploração subumana de trabalhadores em minas ou grandes plantações. Aqueles países considerados hoje em desenvolvimento estiveram, durante a maior parte do tempo, e muitos ainda o estão, submetidos a imposições dos países desenvolvidos, que impedem a reprodução das mesmas condições de crescimento dos países do Norte.
Denominados ‘colonialismo’ a manutenção, por um longo tempo, da dominação cultural, política, econômica e social de um povo por uma potência estrangeira. As raízes do colonialismo podem ser buscadas na expansão européia, que se iniciou no século XV e que perdurou por cinco séculos. Podemos dividir o período colonialista em duas etapas: a do mercantilismo e a do imperialismo.             
A primeira etapa do colonialismo vai do século XV a meados do século XVIII, abrangendo a época dos grandes impérios coloniais ibéricos, quando Portugal e Espanha praticamente repartiram o mundo. Predominou durante esse período a busca por matérias-primas, metais preciosos e novos mercados, adotando os Estados uma política econômica denominada, posteriormente, ‘mercantilista’, cujos principais traços foram: o metalismo, a balança comercial favorável, o protecionismo alfandegário, a intervenção do Estado na ordem econômica, o monopólio e o colonialismo. O metalismo, que consistia no acúmulo de metais preciosos (ouro e prata), era a essência do mercantilismo.
Outro aspecto essencial da política econômica mercantilista foi a conquista e a exploração das colônias, que foram controladas por meio de uma relação de domínio político e econômico exercido pelas metrópoles européias. Essa relação, conhecida como pacto colonial, tinha uma regra básica, que consistia em que a colônia só podia produzir aquilo que fosse autorizado pela metrópole e só poderia vender seus produtos a ela, a preços sempre baixos, para que fossem revendidos a outros países com grande margem de lucro. A função das regiões colonizadas era exclusivamente de servir ao enriquecimento da metrópole; sua exploração era organizada por meio do monopólio, constituindo-se numa região em que a potência colonial européia detinha a exclusividade dessa exploração.

Para garantir os resultados, a metrópole monopolizava a compra e a venda dos produtos de sua colônia, ou seja, todas as exportações da colônia tinham como único destino a metrópole, e as suas importações provinham igualmente desta. E, para garantir que efetivamente isso acontecesse, a metrópole reservava para si também o monopólio dos transportes, sendo que somente seus navios tinham o direito de realizar o comércio com a colônia ou, no caso de navios de outras bandeiras, apenas os que eram autorizados e controlados pelo país colonizador.

Assim, o monopólio colonial era um dos fundamentos da dominação do país colonizador e consistia em três pontos básicos:
1-Toda exportação era dirigida exclusivamente à metrópole.
2-Toda importação da colônia só poderia ser feita por meio da metrópole.
3-Os transportes entre a metrópole e a colônia eram exclusividade dos navios do país colonizador, com exceções autorizadas e controladas por este.
A vida econômica das colônias era organizada em função dos interesses da metrópole, não podendo aquelas, por exemplo, desenvolver uma produção voltada para as suas necessidades internas. Sua economia deveria ser sempre complementar e jamais concorrer com a atividade econômica do país colonizador: a existência de manufaturas, por exemplo, era rigorosamente proibida. As colônias serviam de mercados fornecedores de matérias-primas a baixíssimo custo para as metrópoles, funcionando também como mercados consumidores de suas exportações de produtos manufaturados. Em sua essência, a política mercantilista em relação às colônias lhes reservava o papel de fonte de matéria-prima e de metais preciosos e, num segundo momento, tornam-se mercados consumidores de produtos manufaturados na metropóle. Como a produção das colônias tinha de ser maximizada para abastecer o mercado e tornar o país colonizador mais rico, era necessário, muitas vezes, levar mão-de-obra indígena não era suficiente, pois havia sido dizimada (como nos países do Caribe) ou não se submetia muito bem à escravidão (como no Brasil), importavam-se escravos africanos.

Durante os séculos XVI ao XIX, o tráfico de escravos negros tornou-se a maior migração forçada da história, quando de 10 milhões a 15 milhões de pessoas foram transportadas para o continente americano.
Os primeiros escravos trazidos ao Brasil, por Portugal, vieram para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar.
Os negros eram adquiridos na África, em troca de produtos como: aguardente, fumo, fazendas coloridas e todo tipo de bugigangas. Eram caçados nas suas tribos e, depois de negociados, metidos nos porões dos chamados navios negreiros, na mais completa promiscuidade, péssimas condições de higiene e alimentação mínima. Os que conseguiam sobreviver à dura travessia propiciavam lucros tão compensadores, que o tráfico perdurou durante longo tempo, até a segunda metade do século XIX, apesar das leis que o proibiam e da esquadra inglesa que durante o império ameaçou o comércio humano.
Esse quadro colonial de exploração humana teria fortes repercussões posteriores no país, onde, até o século XXI, os descendentes dos escravos ainda não gozam plenamente os direitos de  cidadania, mantendo-se em condições desiguais perante outros segmentos da população, como veremos no capítulo sobre desigualdade de raça e etnia.

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