terça-feira, 27 de agosto de 2013

Compacto dos últimos acontecimentos da Síria

A Síria enfrenta, desde março de 2011, uma guerra civil que já deixou pelo menos 100 mil mortos, destruiu a infraestrutura e gerou uma crise humanitária no país. Acuados pelo conflito, mais de 2 milhões de sírios deixaram o país rumo aos países vizinhos, gerando uma crise de refugiados e aumentando a instabilidade da região.

O contestado presidente sírio Bashar al-Assad, da minoria alauíta, enfrenta uma rebelião armada que tenta derrubá-lo.
No início, a rebelião tinha um caráter pacífico, com a maioria sunita e a população em geral reivindicando mais democracia e liberdades individuais, mas aos poucos, com a repressão das forças de segurança, ela foi se tornando mais violenta.
O regime argumenta que a rebelião é insuflada por terroristas internacionais, com elos com a rede terrorista da Al-Qaeda, e que apenas se defende para manter a integridade nacional.
O conflito tem sido marcado por derrotas e vitórias dos dois lados, apesar de o governo ter ganho terreno nas últimas semanas.
A fragmentada oposição síria tenta se organizar para uma possível tomada de poder, mas queixa-se de falta de apoio das potências ocidentais, que se mostram reticentes em entrar no conflito.
O conflito reviveu as tensões da Guerra Fria entre Ocidente e Oriente.
Desde o início do conflito em março de 2011, os EUA se limitam a oferecer apoio não letal aos rebeldes sírios e a fornecer ajuda humanitária.
Em junho, a administração Obama prometeu "apoio militar" aos rebeldes, embora tenha mantido certa indefinição sobre a natureza dessa ajuda.
Os EUA têm pouco apetite para intervir na região, uma vez que a rebelião é cada vez mais dominada por militantes islamitas com vínculos com a rede terrorista da Al-Qaeda.
A Rússia, que tem interesses econômicos e estratégicos na região, é a principal aliada do governo sírio, e tem vetado resoluções sobre a Síria no âmbito do Conselho de Segurança.
China e Irã também são importantes aliados do presidente sírio Assad.
Nesta quarta-feira (21), a oposição denunciou mais de mil mortos em um massacre com uso de armas químicas. O governo vem negando ter usado armas químicas, apesar de o Ocidente ver evidências em contrário.
Se confirmado, o incidente pode se tornar o mais grave com uso de armas químicas no planeta desde os anos 1980.

Porem Há um ano, o presidente Obama disse que qualquer tentativa do governo sírio de usar armas químicas seria "cruzar uma linha vermelha" e mudaria sua posição em relação ao conflito, que segundo a ONU, já matou mais de 100 mil pessoas desde 2011.
Em sua primeira entrevista desde que deixou a Síria, o ex-porta-voz do ministério das Relações Exteriores Jihad Makdissi disse à BBC no domingo que o governo terá cometido um ato suicida se ficar comprovado que foi o regime de Bashar Al-Assad foi autor do ataque com armas químicas.
"Se os agentes tóxicos foram lançados pelo governo, é suicídio. Se foram usados pelos rebeldes, é um ato criminoso. Então temos que pôr fim nesta insanidade e dar esperança ao povo sírio de que podemos alcançar algo por meio do diálogo”, acrescentou.
No entanto, Makdissi criticou a possiblidade intervenção militar estrangeira se o governo for identificado como autor do ataque. Ele argumentou que lançar mísseis não vai resolver nada e só vai servir para escalar o conflito.


As evidências apresentadas por imagens chocantes de um grande número de vídeos amadores são muito claras para serem rejeitadas.
No sábado, a organização Médicos Sem Fronteiras afirmou que 3,6 mil pacientes foram atendidos em três hospitais de Damasco com sintomas neurotóxicos. Deste total, 355 morreram.
E isto pode não ser tudo.
O Centro de Documentação de Violações, a mais equilibrada e talvez menos sensacionalista entre as organizações que registram as mortes no conflito, listaram nomes e detalhes de 457 pessoas que morreram de envenenamento por agentes químicos em oito áreas de Damasco na quarta-feira. E os números podem ser uma fração mínima do total.
Ao reconhecerem o ataque, autoridades russas e iranianas vêm adotando ou a retórica do governo sírio - a de que as armas químicas foram lançadas por rebeldes armados -, ou deixam em aberto a atribuição de responsabilidade.
Soma-se a isso a pressão para que os inspetores da ONU, que estão em Damasco desde a semana passada para investigar outros locais que teriam sofrido ataques semelhantes, tenham acesso ao local do último bombardeio.
Tanto Moscou quanto Teerã afirmam que estão pedindo as autoridades sírias que cooperem com os inspetores e o ministro iraniano das Relações Exteriores citou o colega sírio, Walid Muallem, que teria dito que o governo estaria em discussão com a equipe da ONU e preparando as condições para uma visita ao local.
A situação ainda proporcionou um raro contato direto entre Muallem e o secretário de Estado americano, John Kerry.

Por enquanto, o que está claro é a grande relutância, por parte do presidente americano, Barack Obama, de mergulhar em um imbróglio do qual pode ser difícil de sair e que corre o risco de agravar a situação ainda mais.
No Ocidente, um sentimento quase irresistível de que algo deve ser feito para defender a população síria colide com a realidade de que não há opções de intervenção que sejam aceitáveis ou atraentes quando avaliados os riscos.
Obama também sabe que seu público não quer outra aventura cara e sem data para terminar no Oriente Médio.
Até a resposta mais minimalista, que seria treinar e armar as forças da oposição, não aparece como a opção mais viável.
O Ocidente nunca desejou a vitória dos rebeldes na Síria.
Sua estratégia tem sido esperar que, diante da forte pressão, o regime desmorone parcialmente, livrando-se da liderança de Assad e negocie uma transição que exclua o alto escalão do governo, mas mantenha a estabilidade e estrutura do Estado.
Mas nunca houve evidência de que este tipo de abordagem funcionaria.
Além disso, o Ocidente enfrenta a realidade de que a oposição moderada que vem tentando apoiar não se mostrou coerente, crível ou eficiente no terreno.
Em vez disso, à frente dos rebeldes estão facções islâmicas, muitas delas ligadas à Al-Qaeda.
Como aconteceu no Iraque, a intervenção do Ocidente corre o risco de fragmentar a Síria ainda mais, criando uma situação incontrolável que poderia ver o poder cair nas mãos de seus inimigos. E, neste sentido, Washington e Moscou tem mais pontos de vista em comum do que os olhos podem ver.
Os russos, traumatizados com a Chechênia, também ficam petrificados diante da possibilidade de uma dominação islâmica na Síria.
E é por isso que alguns observadores acreditam que ainda há chances de entendimento entre russos e americanos, cujos ministros das Relações Exteriores concordaram em maio em trabalhar juntos na busca por um consenso político sobre a Síria.
Mas até então isto estava se provando difícil de acontecer.
Então agora não parece fora de questão que as recentes pressões causadas pelo uso de armas químicas contra civis seja o suficiente para estourar a rolha e forçar as negociações.

Obama ordenou seus serviços de inteligência a "coletar fatos e provas para determinar o que aconteceu na Síria" para tomar uma decisão, explicou.


'Passeio no parque'


Na noite de sábado, o presidente americano, Barack Obama, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, discutiram a situação na Síria durante uma conversa telefônica de 40 minutos.
Os dois líderes concordaram que "o uso significativo de armas químicas na Síria mereceria uma resposta séria da comunidade internacional", conforme comunicado emitido por Downing Street.
Horas depois, o ministro da Informação sírio, Omran Zoabi, advertiu que uma eventual intervenção militar na Síria não seria um "passeio no parque" e que uma ação como essa "teria graves consequências e seria uma bola de fogo que faria arder todo o Oriente Médio".

"Uma intervenção militar na Síria tem se provado uma opção fraca, já que o país é ainda um Estado forte, que tem instituições e um Exército", afirmou, enfatizando que "a Síria tem aliados na região".
"Se os Estados Unidos liderarem uma ação militar, isso terá sérias consequências, trazendo o caos, e essa região vai pegar fogo", alertou Zoabi.

Em contrapartida o governo sírio ameaçou os Estados Unidos neste sábado (24) e afirmou que um ataque ao país faria "arder todo o Oriente Médio".






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