segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cartas de soldados da primeira guerra mundial são disponibilizadas virtualmente

Quase um século após o término da I Guerra Mundial, os familiares dos soldados ingleses poderão receber as cartas escritas pelos combatentes. Parece até coisa de cinema – os soldados das famosas trincheiras (cuja realidade agora faz parte dos livros de História) escreviam cartas às suas famílias que nunca chegaram.
Por muitos anos tidas como perdidas para as lacunas do tempo, as cartas, na verdade, acabaram sendo censuradas e arquivadas. Hoje, segundo reportagem do jornal inglês The Guardian, cerca de 278 000 delas estão guardadas em Birmingham, Inglaterra, em um centro de segurança. Acredita-se que a censura desse material teria ocorrido por conta de seu conteúdo “secreto”: muitas delas estariam repletas de relatos completos e detalhados de guerra que, segundo o Exército, não poderiam ser divulgados.
Segundo o historiador Jon Cooksey, editor do jornal Stand To!, essas cartas teriam sido escritas pelas tropas e guardadas junto a seus pertences para que, caso morressem em combate, fossem enviadas a seus familiares. Cooksey e sua publicação fazem parte da Western Front Association, a associação responsável por zelar pela memória dos soldados que lutaram entre 1914 e 1918. Através de textos que perpetuam os ocorridos da guerra e eventos que relembram a coragem dos combatentes, essa associação mantém as memórias de guerra vivas.
 Todas as cartas foram disponibilizadas recentemente em um site pelo governo inglês. Basta ter o nome do soldado e o ano de sua morte para que a carta seja encontrada, sendo seis libras o custo para recebimento de uma cópia dela.
Confira alguns trechos das (quase) seculares cartas, divulgados pelo The Guardian:
“Querida, esta guerra será pior do que imaginei. Alguns acham que não durará mais que um mês, e outros dizem que vai durar pelo menos três anos. Nossos oficiais nos falaram esta manhã que será uma guerra longa e difícil.”
“Se eu morrer em combate haverá uma medalha para mim. Eu espero que você a pegue e guarde para nosso menino usar quando ele crescer.”
“Nós recebemos um pequeno acessório com nosso número, nome e esquadrão, que devemos usar no pescoço para podermos ser reconhecidos se, por acaso, morrermos.”
“Estou me preparando para lutar e só me arrependo de não ter visto vocês antes de partir, mas, mãe querida, não perca a esperança. Eu posso voltar para casa um dia.”
“Querida Clara, sexta pela manhã vamos cercar a costa e partir para a Bélgica. Eu não deveria te contar isso.”
“Mãe, seja corajosa, eu vou ficar bem. Há milhares de outras mães e relacionamentos passando pela mesma situação. E se eu morrer, morrerei com um bom coração e todo seu amor em minha mente.”
“Temos que lutar como tigres e pegar nossa comida o mais rápido que pudermos quando ela chega. Alguns conseguem pegar muito, outros não conseguem nada. Quando temos dinheiro é muito difícil gastá-lo. Se você for à cantina tem que esperar cerca de duas horas para ser servido.”
Em uma mistura de relatos de realidade de guerra, importantíssimos para a construção histórica dos acontecimentos daquele período, e despedidas emocionantes, a divulgação dessas cartas certamente é um prato cheio para historiadores e um conforto para as famílias que, mesmo após 95 anos, ainda procuravam algum conforto pela perda dos homens nas trincheiras.

Fonte: literatortura.com

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